terça-feira, 19 de julho de 2011

O Neo-Superego



Freud até tentou dissertar sobre os problemas cotidianos capazes de provocar uma neurose no adulto. Acabou abandonando esse estudo sem dar maiores explicações. Muito provavelmente percebeu que as situações cotidianas formadoras das neuroses, ditas atuais, na verdade encobriam problemas solidificados na infância e que apenas se manifestavam a partir de uma situação ou fato provocador.

Assim como Freud, também acredito que nosso aparelho psíquico é formado a partir do berço, ainda ao nascermos. Como já dito algumas vezes neste mesmo espaço, creio na pré-determinação do ser humano, sendo o adulto apenas uma resultante das situações e conflitos vivenciados anteriormente. A depressão, a esquizofrenia, o autismo, são exemplos de psicoses adquiridas na fase inicial da vida. É claro que há controvérsias acerca desta afirmação e, comumente, o mundo costuma pensar de forma completamente diferente deste autor.

Também já deixei explícito que o Complexo de Édipo é de fundamental importância para a formação da sexualidade do indivíduo, e sua resolução é formadora de nosso superego. Daí surgem nossas normas, diretrizes e limitações. Entretanto, ultimamente tenho presenciado exemplos onde um novo superego também é formado em idade adulta, contrariando todos os conceitos que possuía sobre este assunto, tal qual a teoria psicanalítica.

Observo cada vez mais um fenômeno surpreendente em casais onde o forte ciúme está presente. Apesar de boa parte das mulheres serem ciumentas, a pressão que elas exercem sobre seus cônjuges não chega a ser suficiente para promover uma mudança de atitude ou personalidade deste par. Porém quando o ciúme desmedido se dá por parte do homem, a relação torna-se patológica caracterizando-se como sado-masoquista na qual o marido é o sádico e a mulher, masoquista. Ambos sofrem demais por causa deste ciúmes, mas mesmo com este componente extremamente desagradável, o relacionamento do casal pode se estender por anos.

Uma relação assim é, na realidade, bastante precária e por mais que ela se sustente, em algum momento torna-se insuportável culminando com a separação do casal. A mulher, que era alvo constante de um ciúmes doentio e sem fundamento, sente-se aliviada com o término do relacionamento que a escravizava e a fazia dar satisfação sobre todos os seus contatos ou destinos. Agora livre, leve e solta, passa a gozar de uma liberdade que jamais experienciou enquanto casada. Entretanto, findo o casamento, marcas profundas ficam nesta mulher. Aparece um novo fenômeno que chamo de neo-superego.

Geralmente mulheres com este histórico não conseguem voltar tão cedo a um novo relacionamento ou gozar de uma vida sexual saudável. Sentem-se ainda como estivessem sendo observadas pelo ex-marido mesmo já não tendo nenhuma relação estável ou obrigação para com o mesmo. Por motivos aparentemente desconhecidos, elas possuem uma enorme necessidade de manterem-se fiel à antiga relação a fim de não justificarem o ciúmes exacerbado do qual eram vítimas. O término do casamento marca a internalização da figura do ex-companheiro, tal qual a resolução do Édipo culmina com a surgimento das figuras parentais em nosso aparelho psíquico. É esta internalização do ex-companheiro e de seus conceitos patológicos que caracteriza o surgimento do neo-superego.

Infelizmente pelo lado masculino, o fim deste relacionamento em vez de significar uma mudança, significa o início de outra relação doentia em que haverá uma nova vítima.