segunda-feira, 13 de fevereiro de 2012

A medicalização da saúde




Há bem pouco tempo, as pessoas iam ao médico e voltavam frustradas quando o "doutor" dizia: - você não tem nada. Ficavam mais indignadas quando ele não prescrevia nem, ao menos, uma vitaminazinha. Entretanto os tempos são outros e  não fiquei surpreso ao ler uma reportagem interessante que falava sobre um check-up customizado, que nada mais significa que a realização de uma bateria de exames com o objetivo de verificar a existência de doenças em seu estágio inicial e assim poder combatê-las com maior facilidade. O grande mote destes exames chama-se prevenção, o que exime de culpa os impulsos hipocondríacos de quem procura tais serviços.

As pessoas previnem-se ao colocarem o cinto de segurança antes de assumirem os volantes dos seus automóveis que possuem freios ABS e air-bags para o caso de haver um acidente. As pessoas também se  previnem ao colocar grades nas janelas para crianças não despencarem ou ladrões não subirem por lá, situações estas que justificamos a prevenção a fim de evitarmos possíveis acontecimentos que poderiam vir a trazer graves consequências.

Mas fazer um check-up significa algum tipo de prevenção? No caso de nenhuma doença aparecer, nada há de excepcional, porém se algo mais delicado que uma gripe for detectado, não há mais o que se falar em prevenção, mas sim em tratamento e cura. Uma vez a doença estar estabelecida não a prevenimos, tratamos-a. Cada ser humano comporta-se de maneira distinta diante das adversidades. A doença é a maior delas pois atinge-o diretamente, sem intermediações. Portanto, cabe somente ao próprio sujeito reagir de maneira adequada em busca de sua almejada saúde.

Quando em um naufrágio, incêndio ou outra situação inesperada, qualquer um se utiliza de todos os meios para escapar com vida da tragédia, passando enquanto nesta situação, por barreiras intransponíveis ou escalando paredes que num dia ordinário jamais seriam superadas, tudo em nome do "instinto de sobrevivência".

Porém, em se tratando de doenças, esta superação não costuma ser tão eficaz. Tão logo tenha conhecimento de que possui algum mal, o sujeito pode se comportar de diferentes maneiras a tão desagradável notícia. Há os que desanimam e logo padecem. Há outros que terceirizam sua cura deixando por conta dos médicos, esperando que a sapiência destes aliada a alta tecnologia resolvam seu problema. Também existem aqueles que lutam bravamente, pensam positivo e partem para todas as receitas que possam trazer um resultado satisfatório nesta sua guerra pessoal pela vida. O certo é que a partir do primeiro diagnóstico todos que tomam ciência do fato, iniciam intimamente uma contagem regressiva de tempo de vida do doente.

Não são poucos os casos de pessoas aparentemente saudáveis que após "exames de rotina" descobrem doenças até então despercebidas, vindo a falecerem em pouco tempo. Infelizmente, ficam com suas vidas muito mais abreviadas do que se continuassem na mais completa ignorância sobre seus sintomas muitas vezes nem sentidos.

Tudo isso lembrou-me o velho ditado que diz que um homem prevenido vale por dois. Apesar de confiar muito nos ditados populares, particularmente nunca gostei deste. Ao ouvi-lo pela primeira vez, ainda criança, pensei no que aconteceria se ele passasse numa ponte que suportasse apenas uma pessoa. Certamente não sobreviveria para testemunhar a longevidade dos imprudentes.