segunda-feira, 7 de setembro de 2009

A Pobreza, a Depressão e a Hiperatividade



Semana passada li uma notícia que me deixou bastante intrigado: de acordo com a OMS, Organização Mundial de Saúde, até o ano de 2030 a depressão será a doença mais comum do mundo, superando qualquer outro problema de saúde, incluindo câncer e doenças cardíacas. A depressão será também a doença que mais gerará custos econômicos e sociais para os governos, devido aos gastos com tratamento para a população e às perdas de produção. Ainda de acordo com aquele órgão, os países pobres são os que mais devem sofrer com o problema, já que são registrados mais casos de depressão nestes lugares do que em países desenvolvidos.

Sempre me espantei com estatísticas de doenças, pois elas geralmente envolvem números redondos e bastantes exagerados. No caso citado acima, o número mágico, de acordo com projeções, foi o ano de 2030. Talvez até lá a depressão venha a ser analisada com mais critério do que até hoje vem sendo pelas autoridades de saúde, pois esta costuma ser a doença mais incompreendida. Convém esclarecer que uma tristeza profunda motivada por causa conhecida não é o que costumeiramente chamamos de depressão.

Outra coisa a se considerar nesta notícia é que a OMS declarou ser a população pobre aquela mais afetada por este transtorno. Não houve maiores informações sobre causas, tratamentos ou curas. Melhor assim, pois ainda hoje não existe consenso sobre as verdadeiras causas desta doença. Para a ciência médica, a depressão consiste numa falta de determinadas substâncias químicas no organismo, ora a serotonina, ora o lítio. O fato é que remédios à base destes componentes são fundamentais para o sucesso dos tratamentos deste mal.

Existem diferentes definições para a depressão, também conhecido como transtorno bipolar de humor. Sabemos que indivíduos com isto podem vivenciar uma tristeza e apatia profundas sem nenhuma razão aparente, assim como apresentar variações bruscas de humor passando desta tristeza para a euforia em pouco tempo. Vários são os sintomas porém as causas continuam misteriosas. A explicação para o aparecimento desta doença do ponto de vista psicanalítico pode parecer um tanto polêmico: alguns acham, como é o meu caso, que o depressivo apenas realiza uma cobrança inconsciente da presença dos pais ocasionada por um profundo sentimento de abandono que experienciou em tenra infância. Este sentimento, provavelmente despercebido na ocasião, pode ter sido desencadeado por um fato bastante banal, como um simples atraso na busca da escola ou um simples desencontro num shopping center. São situações corriqueiras, mas que podem provocar um efeito devastador para a criança que refletirá em seu futuro.

A mensuração de um trauma de abandono vivenciado por outra pessoa sempre é complexa uma vez que depende da estruturação do aparelho psíquico de cada indivíduo. Este atraso na busca da escola, para uma criança pode representar uma tragédia enquanto que, para outra, pode significar uma oportunidade de novas descobertas ou diversão, como já dito anteriormente, depende da formação psíquica de cada um. Porém é importante salientar que toda criança ainda possui seu aparelho psíquico em formação, e portanto, quanto antes ocorrer o trauma, menos estruturado ele estará e piores poderão ser as suas conseqüências.

Hoje em dia é comum os pais tirarem férias dos filhos viajando e deixando-os ainda pequenos com avós, tios ou padrinhos, fato este que colabora substancialmente para o aparecimento deste transtorno, pois muitas vezes a criança encara isso como um verdadeiro abandono. Esses mesmos pais no futuro costumam ser penalizados, pois, praticamente, são os únicos seres a suportarem os indivíduos portadores de depressão. Ficam ao lado destes alimentando-os e tentando animá-los. Cuidam de seus filhos adultos como se estes fossem verdadeiras crianças.

Uma coisa interessante é que assim como os sujeitos depressivos, as crianças hiperativas, conhecidas como portadoras de TDAH, também demandam integral atenção por parte dos pais. Por analogia podemos crer que tal qual a depressão, trata-se de uma cobrança da presença dos pais que, por algum momento, ausentaram-se de suas breves vidas, cobrança quase que imediata. Talvez estas crianças em fase adulta sejam mais suscetíveis à depressão, entretanto até o momento não há nenhum estudo fazendo qualquer conexão sobre estes dois problemas. Não passa de especulação deste autor do blog.

E porquê os pobres serão os mais penalizados não é difícil de explicar. As mães de baixa renda necessitam retornar ao trabalho mais cedo após seus partos, "abandonando" seus filhos ainda muito pequenos em creches ou aos cuidados de outras pessoas da família. Seus filhos sentirão bem antes que outras crianças, a sua falta. Mães de outras classes sociais por vezes largam seus empregos para cuidarem de seus filhos, ou então passam maior tempo em licença antes de retornarem ao trabalho. Convém salientar que para a criança, a falta da mãe é fato muito mais grave que a falta do pai.

Há cura para a depressão? Seria demasiado otimista se dissesse que sim, assim como pessimista demais se dissesse que não, mas o tratamento psicanalítico é o mais indicado. É certo também que os remédios prescritos pelos psiquiatras ou neurologistas, de alguma forma, atuam beneficamente para o melhoramento dos sintomas do doente. Entretanto melhor que remediar é prevenir. Nenhum filho pediu para vir ao mundo, mas já que está por aqui nada melhor que os pais dispensarem a atenção adequada às suas necessidades, não?