terça-feira, 1 de dezembro de 2009

Será o homem um sujeito pré-determinado?




A psicologia possui diversas abordagens. Podem ser chamadas de Humanista, Existencial-Fenomenológica, Gestalt, Behaviorista entre outras, e o interessante é que cada uma destas vertentes enxerga o ser humano de uma forma distinta. É claro que elas possuem também visões semelhantes em alguns momentos, porém as diferenças teóricas é que justificam as suas existências. Podemos dizer que em comum está a crítica que todas fazem à Psicanálise pelo fato desta ciência reconhecer o homem como sendo um ser pré-determinado.

Ao se definir o homem desta forma, como um ser pré-determinado, a Psicanálise coloca em risco a necessidade ou eficácia da própria terapia, pois se o indivíduo é fruto do que foi sua infância, se o seu destino já está escrito, como ele irá solucionar os problemas surgidos ao longo de sua vida e que até então, adulto, não conseguiu superá-los? Como mudará seu "jeito de ser" ou irá enfrentar de forma diferente situações que lhe incomodam ou pertubam? Será ele capaz de abandonar um vício, de vencer uma fobia? E se não mudará, para que então fazer terapia? 

É importante deixar claro que nenhuma das abordagens da Psicologia, até onde sei, apresenta uma proposta de reformar o ser humano que procura uma consulta. O profissional competente não ousaria prometer mudar o paciente, pois este não é o objetivo de uma terapia séria.

Não há o que se falar em doença psicológica e muito menos em cura, pois até hoje não foi estabelecido um padrão de normalidade de funcionamento para o ser humano assim como também não existe um comportamento ideal para vivenciarmos a cada situação específica. Como dito anteriormente, cada sujeito possui visão peculiar e experiência própria sobre o que lhe acontece. Neste ponto cabe lembrarmos uma frase de Caetano Veloso: "Olhando de perto, ninguém é normal." Portanto não há o que se falar em exemplos ou modelos a serem seguidos já que não há perfeição a ser alcançada.

Em se falando de sujeito pré-determinado, ao observarmos as crianças, muitas vezes sem perceber exercitamos nossa capacidade de advinhação e imaginamos seus futuros: - Esta será um grande líder. -Esta aqui vai ser professor ou cientista, pois desde pequena já sabe tudo. Conhecendo-a mais profundamente, pensamos que: - esta outra terá um futuro sombrio. Pode soar como algo macabro, mas à excessão do próprio filho, ninguém costuma acompanhar o crescimento destas crianças para certificar-se da promissora ou aterradora previsão. É claro que todos nós queremos o melhor para as quase inocentes criaturas, não tendo porque desejarmos o contrário.

É fato, porém, que esta previsão nada mais é que fruto de nossa intuição. Por experiência, verificamos que crianças tímidas tornam-se adultos acanhados enquanto que as extrovertidas tornam-se comunicativas ao crescerem. E apesar dos esforços conscientes para se promover a mudança, algumas características da personalidade parecem imutáveis aparentando serem mais fortes que a própria vontade do indivíduo. Podemos comprovar tal teoria ao constatarmos o esforço fenomenal, na maioria das vezes mal sucedido, do ex-alcólatra ou ex-drogado para não retornarem ao vício. Visualizamos, com freqüência, a tensão de qualquer portador de uma fobia ao deparar-se com o objeto de seu medo apesar de ter sido treinado para enfrentá-lo ou mesmo ignorá-lo depois de anos de terapia.

O certo é que o futuro do indivíduo depende de como ele vivenciou ou vivencia a fase do Complexo de Édipo, período inicial e marcante de sua vida. Além da definição de sua sexualidade, desta fase surgirão as fobias, as frustrações, as ansiedades que o acompanharão para o resto da vida. 

Para reduzir as mazelas causadas por um Complexo de Édipo mal elaborado, é proposta pela Psicanálise um procedimento terapêutico cujo elemento primordial é a transferência, fenômeno que ocorre quando o terapeuta passa a representar, para o analisando, uma das figuras parentais. Depois de estabelecido  durante a terapia, pode ocorrer de haver o abandono das sessões haja vista o ressurgimento de lembranças desagradáveis que encontravam-se recalcadas, momentos nada prazerosos para o paciente. Mesmo assim, apesar do risco, esta seria a hora propícia para se enxergar e entender as possíveis causas das neuroses estabelecidas na vida adulta e assim fazer com que o próprio paciente consiga, de alguma forma, aliviar os sintomas de seu mal estar ou problema e então passar a conviver com ele de uma forma mais tolerante e harmoniosa.