No último post, dissertei sobre a necessidade do ser humano normal tomar remédios, mesmo sem motivação aparente. Desta vez falarei sobre a medicação oferecida aos doentes mentais. Estes costumam tomar medicamentos alheios às suas vontades, sem saber ao menos qual sua finalidade. Então porquê tomá-los?
Neste mês recebi convite, e fui, a uma festa de aniversário de um garoto autista. Dentre os colegas, outros autistas. E enquanto as crianças se divertiam, sentei-me à mesa com alguns pais de crianças com esta síndrome que é bastante incapacitante socialmente. Dentre os sintomas desta doença, podemos destacar a hiperatividade, aliás, sintoma presente em muitos portadores de transtornos mentais.
Talvez a hiperatividade seja a maior causa de prescrição para os ditos psicotrópicos em pessoas com transtornos mentais. A hiperatividade, em si, não costuma ser um problema para o autista ou esquizofrênico, porém para a grande maioria dos responsáveis destes seres, representa literalmente um estorvo, dificultando um relaxamento para recuperar forças a fim de poder dar conta de todas as inúmeras tarefas diárias.
O uso de psicotrópico no tratamento de transtornos mentais representa uma incoerência médica e muitas vezes um excesso. Uma vez que o remédio não cura qualquer mal, atuando apenas sobre os sintomas, seu uso apenas auxilia aos tutores a observar melhor o tutelado, permitindo-lhes alguns momentos de descanso. Deste fato podemos concluir que o verdadeiro beneficiário do remédio não é quem o toma.
Muitas vezes o uso de medicamento é justificado para "reduzir a agressividade". A princípio, também não se encontra na literatura algo que relacione o transtorno mental com a violência, a não ser nos casos em que o doente tenha convivido com isso na infância. De outra forma, não devemos temer pessoas com este tipo de problema. Pessoas sem transtornos mentais também podem possuir um padrão violento, no entanto estas não costumam ser medicadas contra as suas vontades.
Ainda durante a festa, ouvi relatos acerca da dificuldade em se estabelecer uma relação normal entre pais e filhos com autismo ou outro transtorno. Algumas vezes perguntava a estes pais, cujos filhos encontravam-se medicados, se eles teriam coragem de tomar o mesmo remédio, geralmente antipsicóticos, que davam para seus filhos e, caso tomassem, o que aconteceria. Todos diziam que não tomariam porque se tomassem, muito provavelmente ficariam alterados em seus pensamentos.
Achei bastante interessante a resposta, e sempre os lembrava que seus filhos encontravam-se alterados em seus pensamentos naquele momento pelo uso do medicamento. Sem que estejam em seu estado "normal", eles jamais serão autênticos em suas relações. Certamente seus relacionamentos poderiam ser melhorados sem a intermediação de qualquer substância química. A suspensão do uso de medicamentos representa certo sacrifício num primeiro momento, porém a longo prazo costuma ser compensador.
Sugeri a todos eliminarem de vez estes remédios que não trazem nenhum benefício ao próprio doente. Sinceramente não sei se seguirão meu palpite, muitos pareciam estar realmente precisando de um descanso.