Para se falar sobre o bullying seria interessante saber a sua definição: "Bullying é uma situação que se caracteriza por agressões intencionais, verbais ou físicas, feitas de maneira repetitiva, por um ou mais alunos contra um ou mais colegas. O termo bullying tem origem na palavra inglesa bully, que significa valentão, brigão. Mesmo sem uma denominação em português, é entendido como ameaça, tirania, opressão, intimidação, humilhação e maltrato. "
Como podemos perceber, o termo bullying é extremamente beligerante, ou seja, significa algo que nem de perto promove a paz.
Lembro-me que ao longo de minha vida estudantil presenciava alguns episódios que quase se enquadravam na descrição acima. Muitas das brincadeiras ou zoações, que hoje seriam considerados bullying, ocorriam basicamente devido ao tipo físico da pessoa. O caso mais marcante foi de um colega a quem todos chamavam de "Jarrão", pois se parecia com o protagonista da propaganda do Ki-Suco, refresco em pó açucarado e colorido, sucesso absoluto entre os jovens da época. Acredito que em todo o Brasil deveriam haver milhares de outros jarrões.
Entretanto, nos dias atuais, esta agressividade do bullying parece ocorrer não só pela aparência, mas por alguns motivos implícitos dos quais as vítimas e parentes não possuem conhecimento. Daí esta agressão ser continuada e acontecer por todo o momento em que o agressor e vítima estiverem juntos.
Engana-se quem pensa que ocorre somente entre adolescentes, pois há o bullying em qualquer lugar que exista grupo e em todas as faixas etárias. Entretanto a pressão social inibe esta agressão entre as pessoas mais maduras. Por isso, noticia-se somente entre adolescentes, pessoas cujos aparelhos psíquicos encontram-se em formação, onde o super-ego ainda é frágil.
Como já dito em posts anteriores, na resolução bem sucedida do Complexo de Édipo, o menino incorpora os conceitos e limites impostos pelo seu pai, tomando-o com exemplo. Portanto, se este pai é agressivo e possui poucos limites, o jovem será potencialmente violento.
Outro conceito que devemos ter em mente quando falamos sobre bullying é o da existência de uma relação sado-masoquista entre os envolvidos, em que o agressor é o sádico e a vítima é o masoquista. Esta relação, apesar de aparentemente incoerente, não se interrompe com facilidade.
Finalmente, para se entender completamente o porquê da existência do bullying, devemos conhecer o universo dos adolescentes, o que fazem, como vivem e, principalmente, da importância exacerbada, quase que uma necessidade fisiológica de participar de grupos. E justo por esta última característica, se origina o bullying: - a rejeição do grupo ao adolescente que gostaria de fazer parte dele.
Portanto o bullying só ocorre quando existe uma confluência de três elementos que, caso não estivessem presentes, não aconteceria:
- - Deve haver o agressor, que na realidade é vítima de uma família mal estruturada. Sabemos que este tipo costuma se dar mal quando encontra um semelhante mais forte, pois costuma resolver seus conflitos na "marra".
- - Deve existir a vítima do bullying que possui fortes componentes masoquistas em sua personalidade para persistir neste esquema de querer ser aceito pelos outros. Do contrário evitaria o conflito.
- - Deve existir o grupo agressor.
Como já escrito também anteriormente, quando juntos, os jovens incorporam o super-ego do grupo o qual fazem parte. Se este for liderado por alguém com perfil violento, todos passam a assumir o mesmo comportamento. A agressividade costuma ser direcionada a qualquer pessoa e não somente para a vítima do bullying, entretanto nem todos se sentem abalados, notadamente aqueles que não fazem questão alguma de serem aceitos como membro ou mesmo simpatizante daquele grupo.
Como conclusão, podemos dizer que todos os envolvidos necessitam de tratamento e acompanhamento psicológico, e que infelizmente a vítima, de forma inconsciente, contribui para a existência deste tipo de agressão. Porém, independente das justificativas psicanalíticas para sua ocorrência, o bullying deve ser observado e reprimido pelos monitores e professores, pois trata-se de um ato covarde e não civilizado, completamente inadequado em qualquer estabelecimento de ensino. Campanhas educacionais que visem seu fim muito provavelmente não obterão êxito, mas ao menos servirão de alerta e esclarecimento para aqueles que nunca tiveram experiência com esta prática a fim de que possam reconhecer quando em curso.