segunda-feira, 12 de dezembro de 2011

O dependente e a instituição


Os EUA possuem excelentes artistas e, principalmente, roteiristas. Lembro-me que quando criança na década de 70 assistia a algumas séries de televisão criadas nos anos 60 ou 50 sem me dar conta do processo de criação por detrás do programa. Pela tarde, ao voltar da escola, assistia a "Família Adams" e "Os Monstros". Sábado havia o "Banana Split" com seu gênio Shazan, Cavaleiros da Arábia e nos dias de semana, antes da escola, revezava entre "Perdidos no Espaço", "Terra de Gigantes" e finalmente o que mais gostava, "Túnel do Tempo".

Nesta última série, dois protagonistas eram tele-transportados aleatoriamente ora para o futuro, ora para o passado sem destino ou data certa. Só sabiam onde e quando se encontravam porque sempre chegavam pouco antes de algum acontecimento histórico, geralmente de consequências catastróficas. Mesmo assim era uma diversão.

Curiosamente nesta semana me senti fazendo parte desta série, pois vi que existe um projeto de lei que, em plena era do movimento anti-manicomial, prevê a internação compulsória do usuário de drogas para que este realize tratamento de cura para sua dependência. Fiquei bastante impressionado como alguém, em pleno século XXI, se propõe a apresentar algo desta natureza. De que forma se dará esta internação, onde ficará internado, quem vai tratá-lo e finalmente, quem vai decidir interná-lo não foi sequer comentado na notícia.

O retorno ao passado me veio à cabeça devido a lembrança da experiência de um famoso escritor brasileiro que também foi internado em instituição contra a sua vontade. Esse escritor é o Paulo Coelho. Faz algum tempo, vi uma reportagem na qual ele dizia que, quando jovem, seu rigoroso pai a fim de curá-lo do vício da drogas, internou-o em um manicômio. Atualmente sendo o escritor brasileiro mais famoso no exterior e um dos maiores vendedores de livros do mundo, pode-se dizer que, se não houve cura, ao menos esta experiência deve ter servido de inspiração para algumas de suas criações, que eu não saberia dizer quais, pois ainda não tive oportunidade de ler sua obra. Também me lembrei do premiado filme "Bicho de Sete Cabeças" com a excelente participação de Rodrigo Santoro narrando a história de um usuário de droga com a mesma experiência do Paulo Coelho, mas digamos, menos glamourosa.

Um dos maiores desafios no tratamento de qualquer dependência é a troca que se oferece ao dependente, ou seja, deseja-se eliminar um prazer que este possui, seja no uso da droga, da comida, do jogo, oferecendo-se nada em seu lugar. Convenhamos que não é muito convincente oferecer nada em troca de um imenso prazer. Ainda mais se levarmos em consideração esta troca sendo oferecida em local que, para quem visita é um sítio paradisíaco, mas para quem se interna é um circo dos horrores, o lugar comum das instituições de internação no Brasil.

Dependência em comida e em jogo apesar de serem altamente destrutivos ao próprio indivíduo, pelo fato de pouco influenciarem na sociedade ao redor além da própria família, não despertam o interesse de políticos. Caso viessem a apresentar qualquer projeto de lei limitando a obesidade ou valor de apostas, estariam violando a bela democracia invadindo a privacidade de algumas pessoas. Porém, em se tratando de drogas e narcóticos, este ponto de vista não se encontra enquadrado e, independente da privacidade ou vontade do drogado, querem impor-lhe tratamento.

Mesmo sem saber os reais motivos da apresentação deste projeto de lei, acredito que deve-se ao fato de que o uso de drogas, indiretamente contribui para o aumento da violência urbana, pois fortalece o tráfico e traficantes de drogas. O interessante que o mesmo esforço não é destinado a usuários dependentes de drogas lícitas, (benzodiazepinas - analgesicos, ansioliticos, tranquilizantes e álcool) encontrados regularmente nas farmácias ou botequins, cujo uso é patrocinado pela indústria farmacêutica ou de bebidas com ajuda do maravilhoso marketing. Ao menos estas indústrias pagam, e bem, os devidos tributos pela produção de suas drogas.

Freud, o pai da Psicanálise, era dependente de seus amados charutos e este seu vício no tabaco resultou num câncer na garganta que provocou-lhe dores horrendas. Ao longo de sua vida, antes mesmo do surgimento desta doença, foi por diversas vezes aconselhado a deixar o fumo, porém em todas as ocasiões encontrou justificativas para continuar seu uso. Coincidentemente ele acabou sua amizade com todos que lhe sugeriram abandonar seu vício. Ou seja, o nível de inteligência não diferencia os dependentes e a sugestão ao dependente por meio de palavras além de não muito eficaz pode significar o fim de longa amizade.

A droga ou qualquer outro vício, inclusive o vício de se fazer sexo com crianças, no caso do pedófilo, representa um prazer ao indivíduo. O tratamento, conforme dito anteriormente, sugere o fim deste prazer sem nenhuma outra vantagem, daí a enorme dificuldade de se alcançar um sucesso. Os motivos que levaram o indivíduo a tornar-se dependente, para a psicanálise, vem de tempos remotos, especificamente na fase oral do desenvolvimento psíquico ainda na primeira infância do sujeito. Indivíduos com fixação nesta fase oral tornam-se muito mais suscetíveis ao vício que os demais. Crianças que obtiveram imenso prazer durante sua amamentação, no futuro, em condições favoráveis, poderão retornar à mesma fase de dependência. É comum ao alcoólatra ser tratado como criança, dizermos que está mamado tal qual um bebê em vez de bebido.

Quanto ao tratamento desta dependência, ela até pode ser sugerida por uma autoridade, pelo pai, pela mãe ou amigos do dependente, mas é algo que "depende" exclusivamente da vontade daquele que irá se submeter ao tratamento. Se o próprio dependente não quiser se tratar voluntariamente, a melhor instituição não irá convencê-lo de abandonar seu vício, mas apenas o cerceará enquanto ele estiver em ambiente restrito e vigiado. Tão logo deixe o recinto, voltará ao objeto que tanto lhe proporcionou prazer.

Em relação à cura propriamente dita, há duas maneiras de fazê-la: uma delas seria através da sublimação, ou seja, direcionar a pulsão do indivíduo para um alvo não-sexual, incentivando-o a exercer atividades artísticas ou voltadas para a religião, para o esporte, para a participação ativa em grupos do tipo AA - Alcoólatras Anônimos ou NA - Narcóticos Anônimos. A outra maneira de se resolver, seria entrando no túnel do tempo daquela série que falei acima e orientar os pais do sujeito a tornarem-se mais presentes em seu crescimento além de os alertarem sobre os perigos do excesso de mimos na criança durante a fase oral. Podia-se ainda aproveitar a mesma viagem ao passado para eleger melhores políticos.

terça-feira, 19 de julho de 2011

O Neo-Superego



Freud até tentou dissertar sobre os problemas cotidianos capazes de provocar uma neurose no adulto. Acabou abandonando esse estudo sem dar maiores explicações. Muito provavelmente percebeu que as situações cotidianas formadoras das neuroses, ditas atuais, na verdade encobriam problemas solidificados na infância e que apenas se manifestavam a partir de uma situação ou fato provocador.

Assim como Freud, também acredito que nosso aparelho psíquico é formado a partir do berço, ainda ao nascermos. Como já dito algumas vezes neste mesmo espaço, creio na pré-determinação do ser humano, sendo o adulto apenas uma resultante das situações e conflitos vivenciados anteriormente. A depressão, a esquizofrenia, o autismo, são exemplos de psicoses adquiridas na fase inicial da vida. É claro que há controvérsias acerca desta afirmação e, comumente, o mundo costuma pensar de forma completamente diferente deste autor.

Também já deixei explícito que o Complexo de Édipo é de fundamental importância para a formação da sexualidade do indivíduo, e sua resolução é formadora de nosso superego. Daí surgem nossas normas, diretrizes e limitações. Entretanto, ultimamente tenho presenciado exemplos onde um novo superego também é formado em idade adulta, contrariando todos os conceitos que possuía sobre este assunto, tal qual a teoria psicanalítica.

Observo cada vez mais um fenômeno surpreendente em casais onde o forte ciúme está presente. Apesar de boa parte das mulheres serem ciumentas, a pressão que elas exercem sobre seus cônjuges não chega a ser suficiente para promover uma mudança de atitude ou personalidade deste par. Porém quando o ciúme desmedido se dá por parte do homem, a relação torna-se patológica caracterizando-se como sado-masoquista na qual o marido é o sádico e a mulher, masoquista. Ambos sofrem demais por causa deste ciúmes, mas mesmo com este componente extremamente desagradável, o relacionamento do casal pode se estender por anos.

Uma relação assim é, na realidade, bastante precária e por mais que ela se sustente, em algum momento torna-se insuportável culminando com a separação do casal. A mulher, que era alvo constante de um ciúmes doentio e sem fundamento, sente-se aliviada com o término do relacionamento que a escravizava e a fazia dar satisfação sobre todos os seus contatos ou destinos. Agora livre, leve e solta, passa a gozar de uma liberdade que jamais experienciou enquanto casada. Entretanto, findo o casamento, marcas profundas ficam nesta mulher. Aparece um novo fenômeno que chamo de neo-superego.

Geralmente mulheres com este histórico não conseguem voltar tão cedo a um novo relacionamento ou gozar de uma vida sexual saudável. Sentem-se ainda como estivessem sendo observadas pelo ex-marido mesmo já não tendo nenhuma relação estável ou obrigação para com o mesmo. Por motivos aparentemente desconhecidos, elas possuem uma enorme necessidade de manterem-se fiel à antiga relação a fim de não justificarem o ciúmes exacerbado do qual eram vítimas. O término do casamento marca a internalização da figura do ex-companheiro, tal qual a resolução do Édipo culmina com a surgimento das figuras parentais em nosso aparelho psíquico. É esta internalização do ex-companheiro e de seus conceitos patológicos que caracteriza o surgimento do neo-superego.

Infelizmente pelo lado masculino, o fim deste relacionamento em vez de significar uma mudança, significa o início de outra relação doentia em que haverá uma nova vítima.

terça-feira, 10 de maio de 2011

O filho na relação homo-afetiva



O mundo evolui, nossos conceitos evoluem com o mundo. Não podemos parar no tempo a fim de não corrermos o risco de sermos atropelados pela história. A última novidade que li foi o reconhecimento pelo STF da validade jurídica da relação entre parceiros do mesmo sexo. Uma situação nova que ainda deverá ser bastante apreciada pelo legislativo, haja vista uma série de novos contenciosos que irão surgir a partir desta união.

Se a igreja apostólica romana permitisse o casamento de sacerdotes, primeiro haveria a discussão sobre a conveniência deste casamento e depois de aceito, discutiríamos se o sacerdote poderia se divorciar, ou seja, os problemas aparecem de acordo com a evolução das relações. Neste caso da relação homo-afetiva isto não será diferente. Agora que foi reconhecido oficialmente, iremos nos deparar com a próxima questão: Poderia este tipo de casal adotar uma criança? Quais as implicações desta adoção?

Não poderia deixar de citar exemplos cinematográficos para ilustrar este tema. Dois deles me vieram a cabeça apesar de conhecer muitos outros casos. O primeiro é o filme australiano "Priscilla, a rainha do deserto". Com uma excelente trilha sonora este filme retrata o cotidiano de artistas drag queens que realizam uma excursão tipo "Bye bye Brazil", porém na terra dos cangurus, a Austrália. Entre os protagonistas, assumidamente gays, havia um que tivera um filho fruto de uma antiga relação normal.

No decorrer do filme ocorreu o encontro entre este pai e seu filho, que não o conhecia, tendo sido encarado com extrema naturalidade por parte do adolescente. Ao final,  o cão ladrou e a caravana partiu com um novo componente, o filho, cuja heterossexualidade aparentemente encontrava-se definida.

O outro exemplo assisti por um acaso hoje a tarde. Trata-se de um desenho adulto de nome original "Family Guy" com tradução por aqui para "Família da Pesada". Este desenho com temas bem adultos, frequentemente choca grande parte de seu público com piadas politicamente incorretas, zombando de negros, judeus, deficientes físicos e mesmo de diversos artistas.

No episódio que vi, o pai de um dos mais devassos personagens do desenho, resolve assumir e declarar-se definitivamente como sendo homossexual realizando uma cirurgia de mudança de sexo. O filho, sexista e mulherengo de hábitos sexuais extremamente bizarros, ficou bastante desapontado uma vez que achava que seu talento com as mulheres era fruto de herança genética. Apesar das dificuldades em aceitar àquela situação, reconheceu o direito a autonomia paterna e a vida continuou.

Os exemplos citados acima nada tem a ver com a adoção de crianças que começamos a discutir lá em cima, mas trata indiretamente deste assunto bastante delicado, pois abordou a visão e posição do filho perante o pai homossexual.

Qual então o ponto de vista psicanalítico sobre a adoção e quais consequências poderiam haver se o casal homo-afetivo adotasse uma criança?

Assim como os bebês de proveta, muito provavelmente os primeiros filhos adotados por casais homo-afetivos despertarão a atenção da imprensa sensacionalista ou de alguns líderes religiosos em busca de audiência e controvérsias, porém em pouco tempo perderão o interesse da população em geral, e consequentemente, sairão dos holofotes da mídia. 

Do ponto de vista psicanalítico, lembro-me ter falado num tópico anterior de que para Freud a sexualidade não se resumia aos genitais, ao sexo masculino ou feminino. Para ele haveria sim uma atividade ou passividade sexual. E como qualquer casal, um dos parceiros representaria a atividade sendo que o outro, a passividade. Comumente relacionamos a atividade ao homem e a passividade à mulher, exato o que a criança irá enxergar em seu cotidiano. Um parceiro representará simbolicamente a mãe enquanto o outro representará o pai.

Logo, o Complexo de Édipo, primordial para a definição da sexualidade da criança, ocorrerá da mesma forma que em qualquer outro lar. Se equivoca quem pensa que a criança cresceria com tendências homossexuais, pois concluir isso seria achar que filhos de pais heterossexuais seriam, necessariamente, heterossexuais ou mesmo que pais fumantes produziriam um filho fumante, algo que na prática já percebemos que não funciona.

No caso de separação contenciosa do casal homo-afetivo, caso haja disputa pela criança, o parceiro que assumiu o lado passivo da relação deveria ter a prevalência em ficar com ela, assim como nos casais heterossexuais, geralmente a mãe tem a preferência. Isto poderia ser detectado em rápida entrevista por psicólogos forenses que instruiriam o processo a fim de subsidiar a decisão judicial.

De qualquer modo, uma vez adotada, a criança provavelmente estará melhor assistida do que se fosse mantida numa instituição.

quinta-feira, 14 de abril de 2011

A Psicanálise e o Código Penal

Grupo Bombando - www.bombando.com.br

No post anterior que versava sobre livre arbítrio, nada falei sobre a vida na civilização. A conclusão que cheguei foi que o livre arbítrio é apenas ilusório, ou seja, todos somos livres para fazermos o que bem queremos, desde que o que fizermos, além de superar as barreiras impostas por nosso inconsciente, esteja permitido nas normas da civilização. De outra forma, se todos arbitrassem livremente suas vontades, a vida nas grandes cidades seria intolerável e tudo se transformaria num imenso caos. E em assim estando, é facilmente previsível que em pouco tempo iria faltar mantimentos ou outros produtos básicos e nesta hora, movido pelo princípio da realidade ou necessidade de sobrevivência, qualquer ser humano faria coisas que em condições normais jamais pensaria ser capaz de fazer.

Percebemos então que nossas atitudes podem ser condenáveis ou não, dependendo apenas da ocasião em que nós a tomamos: durante uma guerra podemos matar outro ser humano enquanto que no dia seguinte ao fim desta mesma guerra, o ato de matar seria uma atitude condenável. Em tempos de paz, apesar de não aparentar, nosso comportamento é influenciado por diversos fatores sem que notemos essa influência. Como exemplo, podemos dizer que muitas pessoas comem uma asa de frango com a mão em determinado restaurante e num outro, mais requintado, esforça-se para degustar da mesma iguaria com garfo e faca.

Comer uma asa de frango de uma ou outra maneira representa um gesto totalmente inocente, onde as conseqüências deste ato se restringem apenas àquele que comeu ou que tanto se esforçou para parecer aquilo que não é. Porém nem todas as mudanças de comportamento parecem ser tão inofensivas quanto esta de deglutir o pobre de um frango.

Nos casos citados acima, o superego do sujeito trabalha de formas distintas. Numa guerra em que se visa primordialmente a sobrevivência, o fato de matar alguém não é, propriamente, um ato condenável, mesmo que o matador tenha crescido em um ambiente religioso e escutado por toda vida que matar é pecado. Já no restaurante, apesar de plena convicção da inconveniência em se comer determinados alimentos com garfo e faca, na tentativa de aparentar pertencer a aquele ambiente, o superego é anulado totalmente para que o sujeito incorpore o superego comum do grupo frequentador daquele local refinado. Concluímos então que as pessoas, mesmo nós, podem alterar seus padrões de comportamento de acordo com o momento histórico ou ambiente a fim de se sentir enquadrada.

Se isso acontece com os adultos que possuem uma formação psíquica mais sólida, o que não dizer do jovem. O jovem adolescente, de qualquer etnia ou classe social, faz coisas em grupo que jamais faria quando sozinho. Em grupo ele é capaz de queimar um índio, espancar homossexuais ou prostitutas, destruir o patrimônio público, envolver-se nas mais ferozes brigas e até mesmo praticar o bullying. Quando fora do grupo transforma-se em um ser absolutamente normal, queridinho por todos da família, incapaz de fazer mal e muito menos capaz de cometer atrocidades. 

Podem até haver outros motivadores que induzem um pacato ou inocente indivíduo a cometer um crime, mas nada fica tão patente quanto a influência do grupo. O mais irônico é que nesses casos, além da condenação pelo crime em si, quando em grupo, o réu costuma ser condenado por formação de quadrilha também.

E longe de ser favorável à impunidade, durante o julgamento de crimes realizados nessas condições, nossa gloriosa Justiça deveria levar em consideração como sendo atenuantes, determinados elementos que contribuíram para que o crime fosse cometido. Porém muitas vezes atiçada pela imprensa ou promotores preocupados em repercutir na mídia, esses mesmos fatores atenuantes na realidade acabam agravando a pena de quem pecou.

De forma alguma os argumentos levantados por este autor servem para justificar a prática de um crime ou de um simples ato maldoso. Todo crime cometido deve ser devidamente penalizado com os rigores da lei. Entretanto a Justiça, que em nosso país tem como representação a figura do excelentíssimo todo poderoso juiz de direito, deveria observar estes aspectos psicanalíticos da participação em um grupo quando determinar a sentença dos culpados, individualizando a pena de cada membro. Na maioria dos casos, se não houvesse o grupo, muito provavelmente não haveria o crime nem criminosos e muito menos a vítima.

Agora peço licença para dar um passeio. Tomara que eu não cruze com um grupinho na rua. :)

quarta-feira, 30 de março de 2011

O livre arbítrio e a Psicanálise



Na última semana em meus passeios pela internet, avistei uma notícia interessante. O título era A ciência e a filosofia do livre arbítrio. Confesso que não me aprofundei no texto como deveria, pois desanimei ao ver seu tamanho. Neste mundo contemporâneo em que me encontro, baseado na rapidez, no Twitter ou Orkut, ler algo maior que uma página só por obrigação ou para subsidiar alguma tese de mestrado. Ou então quando tiver tempo sobrando, como foi o caso.

Exageros à parte, achei a matéria extraída do New York Times um tanto confusa além de complexa, já que em sua conclusão não entendi se existia ou não o livre arbítrio. Foram abordados pontos de vista neuro-psicológicos sobre o tema haja vista a existência de pesquisas nas áreas da neurociência e da psicologia. Os aspectos inibidores do livre arbítrio não foram considerados por trata-se de fatores externos ao indivíduo, como regimes políticos entre outros, pois afinal ninguém tem culpa de não viver em país democrático. Ao mesmo tempo, vários conceitos filosóficos foram colocados em pauta, apesar de não conhecer muito bem o trabalho dos filósofos citados na matéria em questão.

Pelo fato de ter sido escrito nos EUA, o texto ignorou solenemente filósofos e psicólogos conhecidos mundialmente, restringindo-se à opiniões de renomados profissionais oriundos da terra do Tio Sam. Não posso negar que admiro bastante a ciência, tecnologia e, principalmente, a importância creditada à educação daquele país, mas decepciono-me com o hermetismo de sua cultura geral que muitas vezes se demonstra incapaz de enxergar um pouco além de suas próprias fronteiras. Apesar de viverem na maior potência da terra, os cidadãos comuns americanos costumam ser ridicularizados mundo afora por desconhecerem completamente, não só a geografia, como também a cultura e civilização alheia. Nosso sistema métrico não existe por lá, o número do sapato ou roupa é diferente do daqui, o baseball ou futebol americano são verdadeiras paixões e quem inventou o avião foram os irmãos Wright, pois até os dias de hoje parecem não ter ciência do nascimento de Santos Dumont.

Entretanto, minha admiração por aquele país não diminui por causa desses detalhes, mas num artigo versando sobre filosofia, psicologia e livre arbítrio em que não se fala de Descartes, Freud e inconsciente, sinceramente, não posso considerar o texto relevante mesmo ele tendo sido publicado no New York Times.

No século XVII, Descartes, através de seu singelo Discurso do Método, fez história e revolucionou a Filosofia resgatando esta ciência do obscurantismo ao qual se encontrava desde a idade média. Escrevia de forma simples e suas escritas eram tão lógicas que qualquer cidadão de bom senso poderia lê-las e, melhor, entendê-las. A partir de então a lógica e a razão foram os princípios filosóficos dominantes por séculos e qualquer sujeito que se utilizasse deste racionalismo cartesiano seria capaz de fazer qualquer coisa. Por analogia, imaginamos o livre arbítrio como sendo a vontade do sujeito racional de Descartes, basta querer para se fazer.

Muitos de nós tem virtudes, porém os defeitos são persistentes por mais força que façamos para elimina-los. Se fosse fácil acabar com os defeitos da gente, se apenas a razão reinasse em nossas mentes e tivéssemos muita vontade, não precisaríamos de milhares de dietas diferentes para emagrecimento, bastariam um ou dois métodos para deixar de fumar ou ingerir bebidas alcoólicas e até mesmo algumas poucas receitas para desistir definitivamente do uso de drogas seriam suficientes. Isso sem falar no grande esforço realizado por pessoas acima de quaisquer suspeitas em abandonar constrangedoras manias que, se divulgadas, seriam consideradas bizarras pelos seres humanos ditos normais. Mudar a nós mesmos parece ser mais difícil do que a vã filosofia apregoa, mesmo quando não há impedimentos aparentes.

Este fato confirma a perigosa teoria Freudiana de que o homem não é movido pela razão ou própria vontade, mas sim por seu inconsciente. Ele é movido por uma força aparentemente adormecida, mas que na verdade está próxima da ebulição. E sendo o inconsciente moldado durante a infância de todos nós, podemos dizer que o homem é um ser pré-determinado onde seus atos ou palavras são dependentes de sua evolução psíquica e não resultante de sua cultura, aprendizado ou pretensa vontade. Ou seja, para Freud, o homem racional de Descartes foi sepultado.

Portanto, para a Psicanálise, o livre arbítrio não passa de mera ilusão.

terça-feira, 22 de março de 2011

A cura do homossexualismo



Muitos acontecimentos interessantes ocorreram no mundo enquanto este blog manteve-se estático. Houve o terremoto no Japão, a visita do Obama, mas agora irei escrever sobre algo que li recentemente em alguns sites da internet. Um aplicativo para iPad ou iPhone disponibilizado pela Apple, destinado a curar o homossexualismo vem causando muita polêmica. O simples aparecimento do software suscitou calorosos debates em diversos fórums pelo mundo, sendo a imensa maioria contra o curioso método. Mas será que existe mesmo cura para isto?

Já ouvi centenas de teorias acerca do surgimento da homossexualidade. Boa parte delas credita à genética seu aparecimento. Outra parte diz que sua origem é comportamental ou cultural e, até então, praticamente nenhuma corrente afirma haver reversão pare este quadro, ou seja, garantem existir ex-fumante, ex-alcoólatra, ex-drogado, mas não existe um ex-homossexual. Para não dizer que nunca ouvi falar sobre isso, lembro-me de ter assistido na TV num programa de um pastor da igreja universal do bispo macêdo em altas horas da madrugada, o testemunho de um ex-homossexual que se dizia curado desta sua doença. Após frequentar os cultos e orar com bastante afinco, de repentemente enxergou-se um sujeito normal voltando a ser heterossexual, como Deus bem sempre quis.

Sinceramente não saberia dizer onde Deus entra nesta história da homossexualidade, até porque praticamente não existe referência no Evangelho ou Antigo Testamento sobre este tema. Jesus apenas disse: "Amai-vos uns aos outros como eu vos amei", uma frase bastante genérica que destina-se a todos incluindo aí os homossexuais. O Antigo Testamento versa sobre a destruição de duas famosas cidades, Sodoma e Gomorra. É provável que seja a citação mais explícita sobre sexo genital encontrado naquele livro, mas a condenação às cidades não era propriamente devida ao homossexualismo, mas sim ao excesso de luxúria de seus habitantes independente de suas orientações sexuais.

Veio-me à cabeça esta passagem porque no último domingo assisti na TV a um filme divertido cujo nome, traduzido, era "Ano Um". A história iniciava no tempo das cavernas e contava a saga de uma dupla de trapalhões que foi expulsa de sua tribo porque um deles comeu um fruto proibido da árvore sagrada. No exílio durante a peregrinação, tornaram-se co-adjuvantes de algumas das histórias do Gênesis, presenciando o assassinato de Caim por seu irmão Abel até chegar às orgias de Sodoma.

Quanto à homossexualidade e suas ligações com a Psicanálise, sinceramente, de longe as singelas explicações lançadas por Freud em seu livro "Três ensaios sobre a Teoria da Sexualidade" são as mais plausíveis das quais me deparei até os dias de hoje. Este livro é considerado um dos mais importantes escritos por Freud tendo sido publicado antes mesmo de lançadas algumas das bases de sua ciência, portanto cabe aos leitores fazer a correlação com a teoria psicanalítica formulada posteriormente. É importante salientar que o texto visa trazer entendimentos sobre a formação sexual do indivíduo em situações corriqueiras do dia a dia excluindo-se aí os casos extremos.

Segundo o livro, o Complexo de Édipo é determinante para a escolha definitiva da sexualidade, principamente a masculina. Na resolução ou encerramento deste complexo, é fundamental que haja uma interdição paterna, ou seja, o pai ou sua representação simbólica, deve frear o intenso interesse do filho em disputar com ele os carinhos e atenção da mãe, sua mulher. Essa interdição quando ocorre, gera no menino o denominado complexo de castração pelo fato dele ter medo de perder seu pênis na disputa pelo amor de sua mãe. Isto faz o menino deixar de ser um competidor para transformar-se em aliado do pai, admirando-o e querendo ser exato como ele é. É o tal negócio, se não pode com ele, junte-se a ele. Quando vemos o filho usando a mesma camisa do time de futebol do pai e o achando o melhor homem do mundo, podemos dizer que já houve a resolução do Complexo de Édipo para este garoto e sua sexualidade já está definida tornando-se heterossexual após período de latência.

Pode ocorrer, porém, que na relação Pai x Mãe, a personalidade da mãe seja mais ativa e dominante tendo o pai uma personalidade fraca ou ausente, estando no polo passivo da relação. Neste caso o pai ou alguém que o representa, seria incapaz de frear o interesse do menino em obter o amor de sua mãe. A criança cresce admirando sua progenitora, passando a ser igual à ela. Num futuro, por questões de tabú para evitar tornar-se tal qual o Édipo que teve relações com sua própria mãe, a criança transforma-se em homossexual.

Nesses dois parágrafos anteriores está um resumo bastante simplificado do desenvolvimento sexual masculino. A formação da sexualidade feminina, apesar de também depender do Complexo de Édipo, é bastante diversa dos casos contados acima. Conforme perceberam, não há influências da genética e nem do comportamento, mas sim do pai e mãe. Porém é importante aprofundar-se na Psicanálise para compreender melhor estas teorias, pois ao ouvi-las pela primeira vez dificilmente concordaremos com ela. Na realidade, para Freud nunca existiu o conceito de heterossexualidade ou homossexualidade mas sim de atividade ou passividade sexual. Neste quesito, ele encontrava-se há muitos anos na nossa frente quando o assunto era sexualidade.

Agora busquemos em nossas lembranças casos conhecidos de amigos homossexuais, verificar sua formação e família para constatar se eles se enquadram ou não nesta teoria descrita acima. Em síntese, o homossexual possui uma mãe com personalidade mais forte que o pai ou um pai ausente. Pesquisemos então apenas por curiosidade, pois não fará a menor diferença.

Quanto ao aplicativo para curar homossexuais, ahh... nada demais. Se fosse pago deveriam devolver o dinheiro, pois certamente não iria funcionar.