quinta-feira, 22 de janeiro de 2009

Um Curioso Caso de Rejuvenescimento

O velho e o moço


Entra ano, sai ano e nada muda. Fogos em Copacabana, corrida de São Silvestre, filmes de Papai Noel e para variar um pouco, indicações para a premiação do Oscar. Exatamente sobre isto falaremos, pois este ano um interessante e aparentemente bom filme foi selecionado para concorrer ao título de melhor filme, estando entre os favoritos: O Curioso Caso de Benjamim Button. Resumindo bastante, podemos dizer que conta a história de alguém que nasce velho e vai remoçando a medida que o tempo passa, ou seja, vive o oposto de todos nós.

Será isso bom ou ruim? Sinceramente não saberia dizer, mas tentando fazendo uma análise psicanalítica desta sinopse podemos supor que não há nada de inédito nesta história, pois isto já ocorre na vida de milhões de pessoas no mundo todo. A diferença entre Benjamin e estes milhões é que enquanto Benjamin rejuvesnece fisicamente, este outro tanto de pessoas retorna à infância apenas psiquicamente. O caso mais patente de todos se configura naqueles que, ao envelhecerem sofrem do Mal de Alzeheimer ou qualquer outra demência. É claro que não há vantagem nenhuma neste retorno psíquico, e diferentemente de Benjamin não há data para se chegar ao final da história, ou seja, este recuo psíquico pode levar anos e com o tempo o seu final vai se tornando mais infeliz.

Nunca vislumbramos a velhice sobre este ângulo, até porque se assim o fizermos ficaremos mais desmotivados à medida que envelhecemos. Nem todos nós, necessariamente, seremos acometidos das mazelas citadas acima, mas caso ocorra um envelhecimento natural, boa parte de nós precisará "naturalmente" de um acompanhante para ajudar-nos nas nossas tarefas mais rotineiras, como banho e limpeza, curativos e arrumação tal qual necessitávamos quando éramos pequenos e frágeis.

Pensar neste assunto enquanto desfrutamos de plena saúde não é muito reconfortante, até porque o homem (a mulher também) é otimista por natureza. Costumamos planejar viagem com bastante antecedência, comprar apartamentos financiados por até vinte anos e contratar uma previdência privada para aposentadoria futura distante, mas somos incapazes de pensar no envelhecimento e na morte. Estes são dois assuntos tabús que não trazem nenhuma satisfação. - Até eu morrer já inventaram um remédio para o meu mal, - pensamos.

Hollywood é pródiga em nos oferecer pérolas cinematográficas. Me lembro também de já ter visto um filme de alguém que não tinha estes problemas de pensar na velhice. O nome era "O Retrato de Dorian Gray" de Oscar Wilde. Filme dirigido por Orson Wells contava a história de um sujeito que contemplava seu retrato envelhecer enquanto mantinha intacta sua juventude e beleza com o passar do tempo. 

A sétima arte realmente é fértil em imaginação, não? E eu aqui, enquanto não descubro o segrêdo de Dorian, não deixo de fazer minha ginástica para manter minha juventude aguardando esperançosamente o tal remédio ser inventado.

terça-feira, 20 de janeiro de 2009

Obama, Bíblia, Religião, Psicanálise



Existem coisas que suscitam divergências no mundo todo, coisas capazes de provocar guerras, separações e que muitas vezes vai de encontro aos seus fundamentos. Podemos dizer que a religião, ou melhor, a diferença delas é algo que provoca acirradas controvérsias nos mais longínquos cantões da Terra. Ainda hoje enquanto Obama toma posse da presidência dos EUA fazendo um juramento solene sobre a bíblia, judeus e muçulmanos se atracam ferozmente na chamada Faixa de Gaza no Oriente Médio.

Freud era judeu e graças a isto quase padeceu durante a segunda grande guerra perseguido pelos arianos alemães que eram cristãos. Sua família, infelizmente, não teve a mesma sorte. Mesmo assim, Freud jamais defendeu a sua ou qualquer outra religião durante em vida, pelo contrário, deixou claras críticas à todas elas.

Nos dias de hoje, notamos que quanto mais civilizado é o país, menos a população se prende a dogmas ou doutrinas religiosas. Por isto é de se crer que, apesar do juramento, Obama não acredita tão profundamente em boa parte do livro sobre o qual pousou sua mão neste dia de sua posse. Mas este gesto é apenas simbólico num mundo em que as religiões vem cada vez mais superando as doutrinas e exércitos, definindo lideranças políticas e conquistas territoriais.

A Psicanálise voltada para as religiões é a mesma relacionada à formação de grupos. Ao fazer parte de um grupo ou religião, o sujeito se abstrai de seu superego, seus limites e princípios para incorporar um conceito ou superego comum. Isto é bom para aquela pessoa cujo aparelho psíquico é menos estruturado, pois ao fazer parte de algo que acredita ser superior a si próprio como um grupo, religião ou seita, ela se sente fortificada para enfrentar as adversidades que por ventura lhe apareçam e com maior coragem.

Atualmente nos grandes centros urbanos, além da religião, podemos citar como exemplos de grupos o Rotary e Lions Club. Há também os clubes secretos como a maçonaria e outros até exclusivos como as sociedades psicanalíticas. Há dezenas de outros grupos menores e podemos dizer que comum a todos é a participação voluntária. Portanto, se o indivíduo quiser fazer parte de qualquer deles, primeiro ele deve concordar com as regras impostas e depois se abster de seus princípios para adquirir um princípio comum, ou seja, espontaneamente joga seu superego para escanteio para depois incorporar o superego do grupo o qual deseja fazer parte, não necessariamente nesta ordem.

Deve ser muito bom isso, pois os grupos cada vez mais se multiplicam e não restam dúvidas que faz bem ao cidadão que se revigora e fortalece ao acreditar estar fazendo parte de algo que acredita ser bom. Entretanto do ponto de vista psicanalítico isto representa um retrocesso psíquico equiparando este sujeito aos povos primitivos que, desprovidos de conhecimentos científicos, se reuniam para enfrentar os perigos misteriosos.