domingo, 2 de novembro de 2008

A Psicanálise e a Neurociência



Durante uma viagem em julho de 2008, comprei uma revista que me chamou a atenção ao passar pela banca. Era a Superinteressante daquele mês e tinha na capa, além da imagem de Freud, uma pergunta em letras chamativas: Terapia funciona?

Deixei para ler a reportagem depois e finalmente ontem, mais de três meses da compra da revista, me lembrei de lê-la. Me ocupei durante a noite nesta leitura em ocasião que não me encontrava com muito sono e no texto publicado pude perceber algumas conclusões nada imparciais da reportagem sobretudo de alguns entrevistados. Em sua maioria os convidados pertenciam a abordagens diversas da Psicanálise, como cognitivo comportamental ou mesmo neurocientistas e filósofos.

Presumi que Freud apenas aparecia em destaque na capa porque ele continua sendo o principal expoente quando o assunto é Psicologia, independente da abordagem. Excetuando os profissionais atuantes nas respectivas áreas, ninguém conhece bem a aparência do Skinner, Pavlov ou mesmo do Jung ou Lacan. Eu mesmo antes de estudar Psicologia pensava ser o Jung algum sábio chinês, talvez até colega do Confúcio. Ainda bem que evoluí um pouquinho.

A reportagem continha frases como "teoria ultrapassada de Freud". Nela pude descobrir que pesquisadores da UNICAMP fizeram descobertas interessantes como "os sonhos têm mais a ver com memória do dia anterior do que com desejos reprimidos." Lá também li que "Freud exagerou as histórias de seus pacientes para comprovar suas teorias". Existem várias outras pérolas naquela reportagem mas que não convém repetí-las. Particularmente, uma vez tendo sido escolhido como Personalidade do Século XX pela revista Times, desafiar as teorias psicanalíticas de Freud além de ser bastante audacioso é correr risco de cair no ridículo.

Neste ponto me lembro que, quando mais jovem, assisti na TV um cientista brasileiro, César Lattes, questionando a teoria de Einstein em alguns pontos descobrindo depois estar equivocado. Bastou para que fosse impiedosamente criticado pela comunidade científica internacional sendo condenado ao ostracismo, apesar de ser considerado um dos maiores físicos brasileiros de todos os tempos. Toda audácia tem seu preço. Ora a fama e o reconhecimento, ora a frustração e o fracasso, como parece ser o caso em questão.

Não sei muito da Neurociência, porém, segundo a mesma reportagem, pude perceber que se trata de ciência experimental em fase embrionária quase que limitada aos laboratórios das universidades. Suas teorias baseiam-se em algo desconhecido para todos, que é o cérebro humano. Portanto a crença na Neurociência é pura questão de fé, primeiro assunto discutido neste blog. Não há como as pessoas andarem com um scanner na cabeça para saber onde ocorrem os sinapses num determinado momento de suas vidas, pois a cura dos problemas do indivíduo, o conhecimento de si próprio, segundo a Neurociência, depende do sujeito promover de alguma forma ainda desconhecida, novos arranjos de sinapses entre seus neurônios.

Quanto ao título chamativo, "Terapia funciona?", a reportagem dizia que sim, independente da abordagem do terapeuta incluídos aí até os filósofos. Menos mal esta afirmativa. Entretanto nunca é demais lembrar que a terapia psicanalítica se dá através da transferência. A relação paciente-terapeuta é fundamental para a promoção da melhora dos sintomas do sujeito que buscou ajuda. Nesta relação pode ocorrer a transferência até involuntariamente, independente da abordagem do profissional. O importante é conhecer como ela se dá e, principalmente, quando está em curso para fazer bom uso dela.

Depois da leitura, concluí que a Neurociência ainda se encontra muito distante de uma aplicação prática. Pode ser que num futuro próximo, com o desenvolvimento tecnológico, ela evolua a ponto de saber do que é composto o neurônio, como armazena informações, como morre ou mesmo, como fazer para multiplicá-lo. Talvez nesta hora, após atingirem este grau de conhecimento, é bem provável que estes cientistas caiam no mesmo dilema do cachorro que depois de muito latir alcançou o pneu do automóvel: "E agora? O que que eu faço com isso?"

A propósito: Superinteressante, nunca mais.

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