segunda-feira, 4 de janeiro de 2010

O Inconsciente


Há pouco tempo assisti pela segunda vez ao filme "Freud além da alma" que narra a trajetória de Freud no desenvolvimento de sua teoria psicanalítica. Encontrava-me passeando em Santos, agradável cidade balneária paulista, quando assisti pela primeira vez e a partir daí tornei-me Freudiano. Tão logo voltei para casa no Rio de Janeiro, imediatamente matriculei-me no curso de Psicologia. E pelo fato de não ser mais tão jovem na ocasião, no decorrer das aulas pude fazer diversas associações entre os exemplos citados pelos professores nas mais diversas matérias, com episódios já vivenciados por mim. Percebia que o mesmo não acontecia com a "garotada" da turma que, em sua grande parte, trilhou o rumo dos Recursos Humanos indo trabalhar nas mais diversas empresas pelo país afora.

A Psicanálise era a mais controversa das abordagens, suscitava muitas discussões e me foi ensinada desde o primeiro período. Confesso que, para mim, não foi de imediato sua aceitação uma vez que assumir esta doutrina significava abrir mão de algumas opiniões e posições já consolidadas. De repente aparecem-me o Complexo de Édipo subvertendo meus conceitos sobre a sexualidade infantil e falando dos desejos mais libidinosos ou pecaminosos inerentes a qualquer ser humano. A castração, a importância do pênis, Ego, Superego e Id também eram novidade, mas foi justamente um dos primeiros assuntos discutidos, a primeira tópica do aparelho psíquico, que definitivamente fez, ao menos para mim, a diferença entre a psicanálise e as demais matérias.

Freud dividiu o aparelho psíquico em consciente, pré-consciente e inconsciente dizendo ser esta última instância o maior e mais poderoso componente. Marcou aí uma nova era rompendo com o paradigma Cartesiano que dizia que o homem era movido pela razão. Segundo Freud, o homem sendo movido pelo inconsciente deixou de ser dono de si mesmo, perdendo assim sua própria autonomia. Ao criar, defender e provar sua teoria, Freud só não despertou a ira e revolta da comunidade acadêmica de sua época porque poucos o levaram a sério. Ainda hoje, mais de cem anos após suas descobertas, ainda existem milhões de pessoas que, literalmente, discordam de suas idéias.

O problema do inconsciente é que ele está oculto, ou seja, pouco temos acesso ao seu conteúdo a não ser pelos métodos já descritos como os sonhos, os atos falhos, os chistes e em outros casos raros. Em sua maioria o conteúdo é bastante desagradável, por isso ele se mantém recalcado nas profundezas de nosso cérebro. Aceitar a sua existência é reconhecer que somos guiados por uma força estranha e maior que nossa própria vontade. É exatamente esta força que não permite aos fumantes pararem de fumar apesar deles terem certeza que o fumo faz mal. É a mesma força que faz o pedófilo ter prazer sexual em suas perversões. É a mesma força que faz o atleta falhar no último salto. Uma força inexplicável, abstrata mas concreta.

A Psicanálise na sociedade atual está condenada ao exílio. Justamente por saber da existência desses desejos inconscientes bastante superiores às nossas vontades, o psicanalista não costuma condenar o outro: o médico que abusava das pacientes sedadas tinha que ter tratamento e não prisão. O pai que atirou a filha pela janela também. O que falar da advogada que simulou agressão mutilando o próprio corpo? São atos e fatos que merecem uma atenção e não condenação. Entretanto a sociedade é incapaz de entender estas fraquezas, entender a motivação que levou todas estas pessoas a cometerem seus pecados ficando chocada com quem não coaduna com os mesmos veredictos.

Já disse em algum post anterior que para vivermos em sociedade precisamos abrir mão de alguns conceitos e idéias para então incorporar o pensamento dominante do grupo. Essa censura imposta pela comunidade é o preço que o verdadeiro psicanalista paga para se manter na metrópole. Infelizmente a convivência em grupo ou opinião da maioria é garantia de sábias decisões. Há muitos anos atrás durante uma eleição para escolher dentre dois condenados quem escaparia da morte, a grande maioria da população sem titubear escolheu Barrabás a Jesus. Decisão soberana. O engraçado é que nunca mais ouvimos falar no vencedor.

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