domingo, 11 de julho de 2010

Quem ama não mata




Nas últimas semanas tenho presenciado no noticiário, quase que em tempo integral, reportagens sobre homicídios cometidos contra mulheres, seja ex-mulher, ex-namorada ou mesmo ex-amante. Diversos são os motivos destes crimes e o que mais impressiona, e portanto causa mais revolta à população, é que pessoas aparentemente sem problemas mentais, financeiros e bem sucedidas cometeram os graves delitos.

Apesar deste tipo de crime acontecer desde os tempos da caverna, o primeiro que despertou interesse da mídia foi o assassinato de Ângela Diniz, conhecida como Pantera de Minas em Búzios, cidade do Rio de Janeiro, no ano de 1976. Lembro-me que por muito tempo o local onde ocorreu o fato era ponto turístico daquela cidade. Há alguns anos houve o assassinato da namorada de um diretor de um grande jornal de São Paulo que, talvez pelo corporativismo da imprensa, não obteve tanto destaque, e mais recentemente um outro caso semelhante ocorrido em São Paulo onde um advogado matou a namorada que o abandonou, escondendo seu corpo numa lagoa junto com seu automóvel. Há também o caso do goleiro Bruno que não se assemelha a estes anteriores, mas configurou-se numa violência explícita contra a mulher e teve a mesma motivação psíquica.

O que leva pessoas absolutamente racionais e inteligentes, de forma pré-meditada ou repentina, cometer um assassinato sem pensar nas conseqüências advindas deste crime? Quais as características comuns a estas pessoas? O que posso falar é que elas são sensíveis à frustrações, ou seja, não se conformam com uma perda e não conseguem conviver com a derrota. Logicamente que há outros componentes como o ciúmes que já foi tema abordado num post anterior. Este ciúmes fatalmente se revelou ao longo da relação, mas como também já dito, costuma ser errôneamente confundido como "excesso" de amor.

Outra característica comum a estes sujeitos seria que seus princípios do prazer superam, de longe, seus princípios da realidade. Isto é algo difícil de ser constatado, pois o homem para ser bem sucedido profissionalmente deve, no mínimo, realizar um planejamento à longo prazo, o que parece ser uma incoerência. O imediatismo inerente às pessoas regidas pelo princípio do prazer, fica evidente quando querem resolver seus problemas rapidamente, incluídos aí os problemas afetivos mesmo que a solução não seja a mais adequada.

Porém é a obssessividade a força dominante que norteia o comportamento compulsivo do assassino fazendo-o suplantar toda a racionalidade desprezando as barreiras impostas pelo ego e super-ego a ponto de cometerem o crime. Entretanto, o alívio psicológico proporcionado pelo seu ato de violência é demasiado e compensador, fazendo com que suportem tranquilamente as conseqüências que, por ventura, virão. 

Eles podem viver sem liberdade, sem riquezas mas não podem viver com o término de sua relação, principalmente enquanto a ex estiver viva. Se durante a relação ocorresse uma morte casual da parceira, esta perda seria facilmente absorvida por qualquer destes sujeitos que seguiriam com suas vidas sem percalços, provavelmente com outro amor. Mas a separação é insuperável e insuportável, daí pensamentos terríveis sobre o fim do caso inflacionar suas mentes, não permitindo a este indivíduo apresentar qualquer produtividade em seus trabalhos ou relaxamento em seus descansos enquanto não "resolverem" seus problemas.

Por esta obssessão, podemos presumir que a personalidade deste tipo de homicida é predominada pela fase anal. Talvez esta obssessividade, muitas vezes disfarçada de persistência, explica o sucesso profissional de alguns deles. Os atos criminosos cometidos são frutos da péssima elaboração de uma perda recente, ou seja, acontece em pouquíssimo tempo após o evento frustrante e motivador do crime. Portanto caracteriza-se como uma espécie de surto temporário psicótico no qual o indivíduo fica cego para outras soluções ou conselhos razoáveis. O crime nada mais é que o fim de um sofrimento psíquico indescritível e que jamais poderá ser entendido ou mensurado por humanos que se acham normais. Não há prevenção para isso, pois pessoas que cometem este tipo de crime não costumam alardear suas intenções. Se o fazem, apenas contam para aqueles que não impedirão seus atos.

Em se tratando de um casal, ambos costumam fechar os olhos para os defeitos do outro e somente ao final das relações, nos momentos de maior lucidez, caberia às mulheres perceberem nos parceiros os sintomas de uma pessoa capaz de cometer atos violentos. Os sintomas seriam o ciúmes exacerbado, as ameaças verbais caso ela o traísse ou o abandonasse e um possível histórico de violência anterior como tapas, etc... Se o ex-companheiro tem estas características e ainda possui o péssimo hábito de andar armado, melhor não fazer planos para longo prazo.

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