quarta-feira, 22 de outubro de 2008

O Ciúmes e a Tragédia Paulistana

Othello e Desdemona - William Shakespeare


São Paulo é uma cidade engraçada. Não há pontos de referência geográfica além das antenas de TV, então cariocas como eu, lá chegando, costumam, invariavelmente, se perder. No Rio de Janeiro você se guia pelas montanhas e litoral, não tem erro. Outra coisa de diferente entre o Rio e São Paulo parece ser a dimensão das tragédias.

Naquela cidade progressista e pujante, tudo é gigantesco para os padrões cariocas: o aeroporto, as rodovias, o metrô, a explosão do metrô, trânsito, motoboys, etc... Entretanto o que nos interessa neste momento são os crimes que lá ocorreram ultimamente e que dominaram a mídia, não se restringindo aos canais regionais e datenas da vida, mas extendendo-se pelo Brasil afora. Podemos destacar dois deles: Primeiro o aparente assassinato de uma criança cometido pelo pai e madrasta. Segundo, o sequestro com fim trágico com morte da refém ocorrido em Santo André. Em comum a ambos os crimes, o ciúmes.

O que será que significa este ciúmes? Qual sua origem? Qual o tamanho do ciúmes que leva alguém a cometer um crime?

Antes de tudo convém lembrar que muitas pessoas associam o ciúmes ao amor, dizendo ser necessário uma pequena dose dele para que a relação do casal seja completa. Particularmente não encaro desta forma e tampouco a psicanálise. Como será que Freud pensaria ser o ciúmes? Provavelmente deve ter escrito algo a respeito, mas enquanto não leio, podemos fazer elucubrações próprias.

Fatalmente relacionaria o ciúmes ao narcisismo, ou seja, o amor a si próprio. Um amor capaz de tolher a liberdade do outro não poderia ser chamado de amor, pois caracteriza-se como uma prisão, um cerceamento que nada mais é que um puro desamor. Portanto quem possui este sentimento tem apenas uma grande preocupação consigo mesmo e nada com o outro. - Eu me amo e quero as coisas do meu jeito. Este tipo de pensamento é comum das crianças ou em adultos cujo aparelho psíquico não atingiu a maturidade.

Seguindo adiante nestas elucubrações, podemos inferir que o ciumento(a) pode ser considerado um masoquista, pois se regozija ao constatar que suas suspeitas são confirmadas. Desconhece que seu comportamento induz o parceiro a traí-lo, simplesmente para satisfazê-lo, ou seja, justificar a existência deste sentimento. Quando não há a traição, este parceiro alvo do ciúmes pode ser considerado um masoquista, sendo o ciumento o sádico de uma relação complementar patológica.

Olhando ainda mais profundamente, pode-se, de repente, se constatar um desvio da sexualidade do ciumento. O interessante da psicanálise é isto: às vezes o que se encontra por trás de um comportamento é algo totalmente insuspeito, e neste caso podemos imaginar que o ciumento possui características homossexuais. No caso do homem ele deve ficar bastante chateado por achar que sua mulher é assediada pelos outros homens, quando devia ser ele o assediado. O mesmo vale para o sexo oposto.

Qual seria a origem do ciúmes? De onde surge? São perguntas que podemos tentar encontrar respostas futuramente por aqui mesmo. Por enquanto ficamos com estas hipóteses que são somente hipóteses sem comprovações ou valor científico.

Quanto aos crimes mencionados anteriormente, na verdade não fazem muita diferença, pois todos os dias há crimes piores que não saem na mídia. Eles só serviram para falarmos um pouco sobre o ciúmes. O fato de tomarem repercussões gigantescas, provocar comoção popular, enterro com governador, etc... deve-se apenas a uma questão cultural. Como dizemos no Rio, coisa de paulista.

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